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sexta-feira, 30 de julho de 2010

A MELHOR IDADE !

A VELHICE
Rubem Alves




Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo.



A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs.



A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculos as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente.



Ao sentir a passagem do tempo nós apercebemos que é preciso viver o momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia.



No crepúsculo sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando.



E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...


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FRASE DA VEZ:



"ERRAR É HUMANO, TROPEÇAR É COMUM. SER CAPAZ DE RIR DE SI MESMO É MATURIDADE." (William Arthur Ward)
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2 comentários:

  1. Denise,
    permita-me postar um poeminha bem-humorado sobre a velhice, de minha autoria:

    Uma Vovó do Barulho

    Quando eu for bem velhinha
    não quero ocupar ninguém
    volto a ser criancinha
    embora não seja neném.

    Muito antes de velhinha
    pretendo meu jeito mudar
    vou levar minha vidinha
    não tem chope tomo chá.

    outro problema que existe
    e pretendo resolver
    não quero morar com filhos
    nem deles depender.

    E eu que falo demais
    não aceito desacato
    vou-me embora de fato
    e deixo tudo pra trás!


    Rogoldoni

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  2. Denise,
    Vou, também, postar uma poesia sobre a beleza do crepúsculo - do envelhecimento
    O Crepúsculo da Beleza
    de Olavo Bilac

    Vê-se no espelho; e vê, pela janela,
    A dolorosa angústia vespertina:
    Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina
    Outra tarde mais triste, dentro dela;

    Outra queda mais funda lhe revela
    O aço feroz, e o horror de outra ruína:
    Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina,
    Mais do que a vida, o orgulho de ser bela!

    Fios de prata… Rugas… O desgosto
    Enche-a de sombras, como a sufocá-la
    Numa noite que aí vem… E no seu rosto

    Uma lágrima trêmula resvala,
    Trêmula, a cintilar, – como, ao sol-posto,
    Uma primeira estrela em céu de opala…

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