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sábado, 18 de setembro de 2010

FIM DE TARDE

AS CANÇÕES DE CARLOS GOMES




Nunno Dellalio - canção REALTÀ - CARLOS GOMES



Recital em comemoração do 173º aniversário do Compositor Campineiro ANTONIO CARLOS GOMES, realizado na Sala CARLOS GOMES, no Centro de Convivência Cultural, em Campinas, em 10 de julho de 2009.
Ao piano, A. C. Sacco. Gravação José Eduardo G. Florence

"COLOMBO" E A CELEBRAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL


Nessa época, CARLOS GOMES era o compositor de mais amplos recursos em seu meio na Itália.
"COLOMBO" era obra para o palco, que não podia dispensar a ação dramática e que o autor, pensando em cantatas para os norte-americanos, conduziu a esse formato.
Suas intenções comerciais, elaborando uma cantata operística e não uma ópera foram nocivas à sua última obra.
A muito custo, sua nomeação como membro oficial da Comissão Universal Colombiana de Chicago é precariamente efetivada num ambíguo decreto ministerial de 19 de setembro de 1892 e reafirmada num outro projeto, igualmente ambíguo, aprovado pelo Congresso em 16 de novembro de 1892 – neste, confirma-se o apoio oficial à reivindicada apresentação de suas obras nos EUA, sem provê-lo, no entanto, da verba competente.

Em verdade, há, em termos lacônicos, este documento:

“O Ministro do Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, em nome do Vice-Presidente da República, resolve nomear o Maestro Antonio Carlos Gomes para o cargo de Membro da Comissão Universal Colombiana de Chicago.

Capital Federal em 19 de setembro de 1892

Serzedello Corrêa”

Antes da estreia de "COLOMBO", CARLOS GOMES foi nomeado no Rio de Janeiro, pelo Ministro do Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, em nome do Vice- Presidente da República, membro de uma Comissão Universal Colombiana de Chicago que irá até lá para a Exposição Colombiana como representante brasileiro em 19 de setembro de 1892 e os meios para representar "CONDOR" e "COLOMBO" são prometidos ao maestro.

Fazer representar "COLOMBO" custou-lhe enormes sacrifícios morais e financeiros. Ganhou a batalha, mas saiu muito ferido numa temporada marcada por tristezas e decepções. O fracasso financeiro acabou piorando a situação de pobreza do maestro. O governo republicano deu-lhe a prova definitiva da indiferença ao seu talento, à obra produzida, ao homem que tanto se empenhara em elevar o nome do país.
Governo e público foram insensíveis neste ano de 1892.

Parte desgostoso para Milão em 20 de dezembro de 1892 e recomeça outro tormento: sem saber como, quando e com que dinheiro deveria embarcar para os Estados Unidos.
CARLOS GOMES ficou à espera da nomeação para o cargo de membro da Comissão Universal Colombiana de Chicago. Vai atrás de autoridades brasileiras na Itália, mas não recebe ajuda; então, embarca para os Estados Unidos em 10 de maio de 1893 por conta própria, sem falar Inglês e chega a Nova Iorque antes do fim do mês, onde é recebido pelo amigo Aguiar Moreira.
Vai a Chicago e a Comissão Brasileira o ignora; não fosse o amigo pessoal Julio Brandão, nada do pouco que fez teria valido, apesar dos aplausos do público e da crítica. E voltou para Milão mais pobre e mais decepcionado e triste.

Em 1893, três anos apenas antes de sua morte, ainda eram essas as suas palavras de dor, escrevendo de Milão ao amigo Theodoro:

“(…) Já perdi a coragem. Os meus compromissos de família são grandes, ao passo que os meus esforços não chegam nunca a vencer dificuldades contínuas. Não lhe digo nada do enorme atraso e do imenso prejuízo que estou sofrendo, tendo perdido o meu tempo, gastando as minhas economias e à espera de promessas falsas! (…)
É um horror… Uma infâmia!… Não sei se ainda devo contar com as promessas dos Ministros. Eles mandaram-me para Roma para verem-se livres de mim...
Entretanto, recebo aqui o seguinte telegrama do General Simeão de Chicago a 4 do corrente:

“Gomes, Milano
Nenhuma palavra do Governo a seu respeito. Comissão aqui está desde três meses sem vencimentos.
Simeão”

O Sr. delegado do Tesouro em Londres respondeu-me o que já sabes, isto é, que os pagamentos aos Membros da Comissão são feitos pelo general Simeão! Os Ministros no Rio de Janeiro, além da ordem verbal que deles coletivamente recebi de partir para Roma, me asseguraram repetidas vezes que eu teria os vencimentos na Europa (sem dizer, porém, das mãos de quem!)

CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES


Mesmo sendo "COLOMBO" uma obra do maior compositor do século XIX nascido em solo americano, foi completamente ignorada nos Estados Unidos da América, assim como "O GUARANI", de enorme sucesso nos teatros de todo o mundo.

Em 7 de setembro, no Festival Hall da Exposição de Chicago, só consegue organizar um concerto de obras suas com entradas grátis de trechos de "O GUARANI", da "FOSCA", de "SALVADOR ROSA", "O ESCRAVO" e "CONDOR" e teve grande sucesso; de "COLOMBO" nenhuma nota sequer, um acontecimento lamentável e triste; razões de orçamento não lhe permitiram preparar ao menos uma ópera completa.
Pensara em apresentar "COLOMBO" para festas colombianas em Chicago e organiza concerto em que há de tudo menos "COLOMBO" e mesmo assim foi bisado e o Brasil inacreditavelmente honrado pelo seu maior gênio. Esse foi o grande acontecimento na celebração ao 71º aniversário da Independência e foi a maior homenagem jamais prestada ao Brasil fora da Pátria durante os 393 anos decorridos desde seu descobrimento.

Em crônica do JORNAL ITALIA de 9 de setembro de 1893:


“(…) Duas horas de puríssimo gozo intelectual como raras vezes nos é dado apreciar na América. Quando perante milhares de pessoas que esperavam impacientes ouvir as notas deliciosas do grande Maestro, apareceu a esbelta figura de Carlos Gomes, o másculo rosto genial envolto da farta cabeleira cinzenta e a banda rompeu com os dois hinos, o brasileiro e o americano, um frêmito de entusiasmo invadiu todos os espectadores que se levantaram como um só homem aplaudindo até o delírio o artista, no pleno vigor de todas as suas energias.
Depois de cada trecho, um delírio novo invadia-nos a todos e a festa poder-se-á qualificar, não só como a comemoração de um grande feito histórico, mas também como a apoteose de um homem! (…)
(…) Os artistas foram incomparáveis, a música apreciadíssima e quanta emoção, para nós italianos, ouvirmos a nossa língua adornada pelas notas deliciosas da música do Maestro Carlos Gomes! Como foi vivo, intenso, espontâneo o entusiasmo que partia dos numerosos patrícios presentes e como grato e sorridente se mostrava com eles o belíssimo velho, quando do palco estendia as mãos às centenas de admiradores que o rodeavam.
Como se sabe, o Maestro Gomes é em parte uma glória italiana. Foi entre nós que completou os seus estudos e obteve seus maiores triunfos e quase todas as suas óperas foram escritas no nosso idioma (…)
(…) Quando perante o público exultante, a comissão do Brasil subiu ao palco para cumprimentar o grande compositor, os italianos enciumados por aquele testemunho de carinho, correram também para abraçá-lo e saudá-lo, levando-o com eles para tomar uma taça de champagne, mas logo depois o Maestro, com aquela modéstia e simplicidade que o tornam tão simpático, deixou-nos e foi cuidar da vida dele.”

Em crônica do jornal americano THE CHICAGO HERALD de 8 de setembro de 1893:


“O Maestro Carlos Gomes foi o herói na celebração do Aniversário da Independência do Brasil. O compositor aparece sob o docel em frente do Music-Hall que se achava repleto de estrangeiros notáveis, para reger a maior orquestra que jamais tocou neste grande templo. Ele não só tinha os famosos e denodados 114 músicos da Europa, os quais compunham a orquestra Columbiam Wagnerian, como para seus finais e “fortíssimos” tinha um reforçado número de instrumentos de sopro e baixos.
A presença do mestre como regente de suas próprias composições levantou um frenético entusiasmo, cujas constantes manifestações levavam à agitação este gênio do Sul já tão habituado a elas. Homens gritavam “bravo” e mulheres levantavam-se sacudindo seus lenços e os trigueiros filhos do Brasil, saudavam-no movimentando seus chapéus ao ar.”

Ainda a mesma crônica do jornal americano THE CHICAGO HERALD:


“Carlos Gomes tem alguma semelhança com Paderewski. É mais delgado e franzino e a cintura não tem mais do que quatro palmos de circunferência Seus cabelos são grisalhos, penteados para trás, ondulados e bastos e, à primeira vista, semelhantes aos do afamado polonês, porém mais escuros. Seus olhos têm o fulgor do talento e numa multidão de homens seletos, Carlos Gomes distingue-se sempre… pouco importava que fosse brasileiro, judeu ou pagão, já havia conquistado a plateia e os músicos, que o aclamaram por sua grande obra (…)
(…) Os métodos de Carlos Gomes são extremamente vigorosos e brilhantes.
Ao penetrar pela porta do lado, passou sua mão nervosa pelos cabelos e avançou rapidamente para o centro do palco, onde parou e curvou-se. Ligeiro, voltou-se para a estante sentindo pelas costas a assistência numa expectativa entusiástica. Parou por um momento e, dando uma pequena pancada, aprontou-se. Espanhóis e mexicanos e outros espectadores tropicais tornaram-se tão exuberantes em suas ovações prolongadas, que obrigaram Carlos Gomes a se voltar, demonstrando aborrecimento em seu olhar duro e fisionomia severa.
Como por encanto, cessou o barulho, dando-se início à overture.
As trombetas soaram e gradativamente todo o conjunto, respondendo ao chamado, seguia submisso sob a mágica batuta do gigante.
As melodias ecoaram pelas paredes como que convidando as colunas do peristilo a entrar na mesma cadência.
O resultado foi além da expectativa. Carlos Gomes foi bisado e o Brasil altamente honrado pelo seu esplêndido gênio.”

PROGRAMA DO BRAZILIAN DAY


PARTE 1
Banda
Hino Nacional Brasileiro – Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada
Hino Nacional Americano – The Star – Spangled Banner – John Stafford Smith e Francis Scott Key
Música do Maestro Carlos Gomes:
1. Sinfonia da Ópera O Guarani – orquestra
2. Romance da Ópera Salvador Rosa - (tenor) Mr. A. Boetti
3. Balada da Ópera O Guarani – (soprano) Miss Kate Bernsberg
4. Noturno da Ópera Condor
a) Serenata da Ópera Condor – orquestra – Miss Kate Bernsberg
b) Prelúdio da Ópera Condor – orquestra
5. Ária da Ópera Salvador Rosa (basso) Mr. Orme Darval
6. Sinfonia da Ópera Fosca – orquestra e fanfarra

PARTE 2
7. Mia Piccirella – da Ópera Salvador Rosa - Miss Kate Bernsberg
8. Prelúdio da Ópera Lo Schiavo – orquestra e fanfarra
9. Dueto da Ópera O Guarani- Miss Kate Bernsberg e Mr. A. Boetti
10. Quarteto da ópera Condor - Miss Kate Bernsberg, Mr. A. Boetti, Miss W. Tompson, Mr. Darval.

E mesmo depois desse sucesso estrondoso, com entrada grátis, recebe de elementos brasileiros da comissão contas de gastos pessoais, como de hotel, restaurante etc., em vez de ter sido apoiado principalmente pelo governo brasileiro, como o grande artista que era. Intimaram-no a pagar 1.114 dólares! Uma atitude imoral !
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FRASE DA VEZ:

“SE É DE MORTE O MEU MAL, QUERO IR MORRER NA MINHA TERRA." (Antonio CARLOS GOMES)

E Deus deu-lhe o Pará para virar imortal.
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Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado em 2011
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