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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

RENOVAÇÃO NA CULTURA DE CAMPINAS


 Nova titular da pasta em Campinas conversou sobre seus projetos para a área
by Paula Ribeiro
"Ao invés de reclamar sobre o orçamento sempre enxuto da Secretaria Municipal de Cultura, Renata Sunega, nomeada titular da pasta há quase uma semana, já dá indícios de adotar uma nova postura.
Acostumada a correr atrás de patrocínios e leis que a ajudem a realizar suas ideias à frente da Secretaria, ela tem entre suas prioridades facilitar o acesso à cultura e descentralizar os eventos.

Para Renata, enquanto as pessoas não tiverem mais interesse e exigirem consumir cultura, os orçamentos nunca sairão dos pequenos patamares em que se encontram. Formada em arquitetura, com doutorado
(em andamento) em arte contemporânea, está fazendo a alegria da classe artística pormostrar receptividade, otimismo e boa vontade diante das demandas da pasta.
Ela deu uma entrevista ao Caderno C sobre seus projetos, sonhos e trajetória. Leia trechos a seguir.

(...) Dentro da faculdade de arquitetura, como você enveredou por esse caminho da história da arte?
A faculdade de arquitetura é muito completa. Tem desde design de móveis, logomarcas até paisagismo, história da arte, patrimônio, além da arquitetura civil. E eu sempre gostei da área da história da arte e patrimônio.
Tanto que o meu mestrado foi na área de patrimônio e restauro, e o doutorado é em arte contemporânea.

E você já chegou a colocar a mão na massa na área das artes?
Eu não tenho nenhuma aptidão artística. Nenhuma. Para nada. Eu tenho uma formação teórica em termos de arte, de historiadora da arte mesmo.

Você sabe como seu nome surgiu para o cargo de secretária de Cultura?
Na verdade, eu trabalho dentro da Prefeitura há cinco anos, então o prefeito (Hélio de Oliveira Santos) me indicou porque conhece o meu trabalho. Pensando agora, desde a época em que eu entrei aqui, eu já ia atrás de patrocínio e fui muito atrás de verbas externas. Nestes últimos dois anos, de forma mais efetiva.
Acho que talvez por conta disso.

Há muito tempo os secretários de Cultura se limitam a reclamar por causa do orçamento e você está disposta a ir conseguir apoios fora da Prefeitura...
Se você não procura, não consegue realizar bem. Todos os cachês do próprio Festival Internacional de Leitura de Campinas (Filc), que eu organizei, foram pagos com patrocínio.
Eu acredito que a gente tem que focar no rápido pagamento do artista, porque eles não têm capital de giro. E o patrocínio ajuda muito nisso. Os eventos que eu organizei, consegui não dever. Quinze dias depois do evento a gente já tinha pago tudo.(...)

(...) E como você pretende fazer essa mudança de ideologia?
É quase utópico (risos). Na verdade eu já entrei — e isso tem que ser dito — com algumas coisas caminhando para um cenário mais favorável. O (teatro) Castro Mendes já está sendo reformado. O espaço
(cultural) do Padre Anchieta também está em vias de ser entregue. No Campo Grande (região Noroeste de Campinas) estamos caminhando... Então, minha ideia é levar teatro infantil nas manhãs de sábado para esses locais. A gente sentiu muito a vontade das pessoas em ver cultura quando fez o festival de leitura no Largo do Rosário. Tinha muita gente que só entrou no evento porque se deparou com uma grande estrutura. A
gente tem que fazer um movimento para levar os artistas até esses bairros que não recebem cultura na forma mais natural dela: teatro, circo, música...
E acho que não vou ter dificuldade, até pelo retorno que recebi até agora, de ter a ajuda dos grupos de teatro, academias etc. Nisso eu acho que ter ligação com a cultura ajuda, porque eu já conheço o trabalho da maioria das pessoas que me procurou. Uma coisa que o prefeito deixou bem claro é que quer que eu
abra o diálogo com todos os segmentos. Nisso eu sinto que vou ter muita facilidade, porque eles querem conversar e eu preciso desse contato com eles.

Como você pretende colocar suas ideias em prática?
Primeiro, eu vou montar uma grade das atividades nos equipamentos públicos, depois, chamo os grupos. Quero beneficiar a todos. Num primeiro momento serão somente alguns, mas com o passar do tempo quero chamar todos — sem privilegiar ou excluir ningém. No segundo semestre já quero fazer com que isso esteja acontecendo de forma plena.

E quais as outras medidas?
Estou agendando uma visita ao Andrea Matarazzo (secretário de Cultura do Estado), também estou marcando reuniões em Brasília, no Ministério da Cultura. Eu acho que a Prefeitura não pode ser mera
apoiadora. Ela tem que ter uma relação e inclusive ajudar para atrair verbas, conversar na secretaria do Estado. A gente tem que puxar a responsabilidade de alguns eventos para a Prefeitura. Eu tenho um orçamento restrito e tenho que trabalhar com esse orçamento restrito. A gente tem o Fundo Nacional de Cultura, o Plano Municipal de Cultura que vai ajudar com que a gente consiga verbas do governo federal. A gente tem a Lei Rouanet, por exemplo...
E você conhece bem esses trâmites devido aos trabalhos no gabinete, certo?
Sim. Quantas empresas não têm a Lei Rouanet aqui dentro da cidade? Se a Prefeitura intermedia de uma forma que a Rouanet da cidade fique com os grupos da cidade, quanto de investimento dá para ter? A gente dobra indiretamente o investimento em Cultura na cidade. Fácil, ou seja, sem muito esforço. E a gente tem que ter essa conversa com os segmentos culturais para que esses investimentos fiquem nesses projetos para o aumento de público. Nós vamos trabalhar juntos.

Não será só ceder espaço, o que a secretaria se limitava a fazer ultimamente?
A gente não pode só ceder espaço. Temos que participar. Se eu não tenho orçamento, eu tenho que buscar outras formas porque tem coisas para as quais eu não vou ter orçamento, efetivamente. Tanto que o orçamento de 2011 foi previsto em 2010. Eu já estou vindo com um orçamento herdado.
Tudo que eu penso em fazer em 2011, projetos que eu estou desenvolvendo agora, está sem verba e eu vou
atrás. A gente está começando a articular e tem grandes empresas que estão com interesse.
A gente tem que procurar. Tem que ter uma pró-atividade.
Tem que ter transparência, e a gente tem que explicar que está investindo a médio prazo.

E a Virada Cultural?
A Virada está na minha pauta com o Andrea Matarazzo.
A gente quer entrar de novo, mas tem que entrar de uma forma que seja benéfica para a cidade. Queremos um bom nome,um local que a população vá. Temos interesse desde que seja interessante para a população.

A Virada é para este ano?
Para este ano. E a gente também quer falar com as oficinas culturais do Estado.
Uma das minhas intenções é tirar as oficinas somente do Parque Ecológico para locais mais acessíveis, onde
mais gente possa ir: as oficinas culturais do Estado não são acessíveis.

Há previsão de melhora na divulgação da agenda cultural?
Já tive uma conversa prévia com o coordenador de comunicação, o Francisco de Lagos, eu pedi para parar um processo de contratação de serviços gráficos porque neste contrato não estava prevista nenhuma contratação de revista.
Agora quero conversar em que formato será realizada essa divulgação impressa.
Outra conversa que a gente está tendo internamente é incluir a Prefeitura e a Secretaria nas redes sociais, que acabam servindo de divulgação porque o público jovem usa muito isso. Vamos fazer nos moldes do Ministério. Haverá uma forma digital, dentro do site da Prefeitura mesmo. A gente não tem hoje — pelo
menos não que funcione de forma inteligente — uma ferramenta que tenha tudo que está acontecendo de programação cultural, na cidade. E o custo disso não é alto.

Como anda a criação de uma sede para Museu de Arte Moderna de Campinas?
Na verdade, o MAM já existe.
Tem um presidente, que é o Marcos Garcia, e não faz parte da Secretaria de Cultura.
Há dois anos eles pedem uma sede para a Prefeitura. Fizemos uma reunião com eles e vamos disponibilizar um espaço para o MAM. Eles já sabem quais são as nossas intenções de espaço. Émuito precoce divulgar
isso porque vai precisar de melhorias, mas eles já sabem o espaço que é e já estão se organizando em termos de projetos. Vai ser uma parceria de gestão e de espaço.
Não vai ser um equipamento da secretaria de Cultura.
Não estará vinculado ao meu público.

E neste ano, a orquestra teráum maestro titular?
Agora o Arthur Achilles voltou a ser diretor da orquestra.
Na verdade, cabe a ele apresentar alguns nomes. É uma ação que tem que ser tomada, sim, porque esse cargo existe. (...)

Eu senti que os artistas plásticos foram os mais empolgados com a sua nomeação. Por quê?
Primeiro, porque eu tive muito contato com eles e tenho gosto pessoal pela arte contemporânea. Eu espero
mesmo fazer mais intervenções pela cidade. Quero levar arte até o público. É uma forma de atrair as pessoas. Tenho certeza que cerca de 80% das pessoas que estão no ponto de ônibus exatamente em
frente ao Museu de Arte Contemporânea de Campinas não sabem que ali é um museu, e 90% nunca entraram.
Agora, se eu jogo uma arte contemporânea ali, as pessoas ficam curiosas. Hoje eu tenho essa visão, e essa possibilidade. É quase uma obrigação.
Uma das coisas que eu quero é fazer cortina lírica (apresentações de música clássica) de Carlos Gomes nas periferias.

Quais são as prioridades?
Facilitar o acesso das pessoas à cultura, descentralizar as ações, entregar o Castro Mendes e trazer de volta a Virada.

Você está se sentindo desafiada?
Muito. E tem um fato complicador que é a empolgação.
Eu sinto esta empolgação por parte das pessoas que eu conheço, de verem em mim uma pessoa que vai conseguir fazer algo. Eu estou me cobrando muito porque conheço as pessoas antes de ser secretária
de Cultura, sempre tive um bom relacionamento e quero ter um bom relacionamento depois que eu sair daqui.
Eu tenho essa cobrança de não decepcioná-los.
 COLCHA  DE RETALHOS

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