Páginas

domingo, 29 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 29 E 30




CARLOS GOMES - IL GUARANI - OVERTURE (ABERTURA) 

Encerra-se aqui, o mes de CARLOS GOMES, esperando que, no próximo ano, as homenagens a ele sejam condizentes com sua importância no cenário mundial da Ópera:

 From the opera 'O Guarani', composed by ANTONIO CARLOS GOMES (1836-1896).

Performs: The Royal Philarmonic Orchestra, conductor Enrique Arturo Diemecke.








 

sábado, 28 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 28





Abertura Salvador Rosa - CARLOS GOMES - Banda Conselheiro Mayrink 

Abertura Salvador Rosa de Antonio Carlos Gomes, por Banda Conselheiro Mayrink, Tricampeã Nacional, 2008, 2009 e 2010












 


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 27




BURRICO DE PAU - CARLOS GOMES

Cláudio Cruz, Fabian Figueiredo, violinos
Peter Pas, viola
Dimos Goudaroulis, violoncelo











 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 26





COLOMBO - SEBASTIÃO TEIXEIRA 

Ópera Colombo de CARLOS GOMES

Montagem 2008, com Sebastião Teixeira

 
















quarta-feira, 25 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 25





Sounds of Nature - Alvorada - CARLOS GOMES

'Alvorada', música brasileira no alvorecer do séc.XX  de CARLOS GOMES, abertura da ópera Lo schiavo (O Escravo - Lo Schiavo), baseada numa história do Visconde de Taunay, com libreto de Rodolfo Paravicini. A ópera estreou no Rio de Janeiro em 1889, um ano após a abolição da escravatura, e às vésperas da proclamação da república.

Nesta ópera destaca-se a Alvorada da ópera, uma das composições mais elaboradas de
GOMES na qual descreve um amanhecer. Podemos ouvir os primeiros cantos
dos pássaros e sentir, através da música, o paulatino nascer do dia até a
 explosão final com a chegada do sol. A obra começa com poucos
instrumentos, outros vão se agregando num crescendo que termina em
fortíssimo com a orquestra completa.
Há muita profundidade nessa música. Lo Schiavo é um canto de liberdade.

Muitos pensam que CARLOS GOMES só compôs óperas e peças para grandes
orquestras. Na verdade, seu repertório é vastíssimo e muito variado,
incluindo também valsas, modinhas, prelúdios, cantatas, polcas, etc.
Você se surpreenderá ao ver que algumas músicas que você até já tinha ouvido
 antes e nem sabia que eram de autoria de CARLOS GOMES.
Suas óperas
foram encenadas na Itália, Brasil, França, Alemanha, Inglaterra,
Espanha, Portugal, Polônia, Rússia, Argentina, Cuba e vários outros
países.
CARLOS GOMES exerceu todo tipo de influência. Todos os
compositores da Itália da época queriam ser parecidos com aquele
estrangeiro que punha suas óperas no Scala.





 






 


terça-feira, 24 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 24


SONATA PARA CORDAS - CARLOS GOMES - MOVIMENTO I - O BURRICO DE PAU - Allegro animato

Apresentação da Camerata Ivoti na Igreja Nikolai em FRANKFURT/Main no dia 11/02/2010 com apoio do CCBF.


"BURRICO DE PAU"

Poucos anos antes de sua morte, quando ainda se achava em Milão fazendo um passeio por um gênero diferente da ópera, compôs a "Sonata para instrumentos de cordas" – quarteto ou quinteto –, hoje conhecida por "BURRICO DE PAU", dedicada ao Club Sant’Anna Gomes – associação musical campineira dirigida por Sant’Anna, seu irmão.

Possui um quarteto para cordas, mas depois acrescentou o contrabaixo para ser executado por conjuntos de cordas.


Nesse trabalho, os instrumentos são tratados de maneira muito própria, encerrando cada um deles, numa linha de desenvolvimento muito rico, as mais interessantes normas rítmicas, talvez as frases mais expressivas de sua obra.

Ela se compõe de quatro movimentos: Allegro Animato; Allegro Scherzoso; Adagio Lento e Calmo; e Vivace (Burrico de Pau), destacando-se entre eles o caminhante que, por uma simplicidade encantadora, tocando quase as raias da ingenuidade, é sem dúvida o ponto mais elevado desse trabalho e em que a expressão testemunha uma sinceridade surpreendente.

Muito belos são também os primeiro e terceiro movimentos: o primeiro em caráter muito decisivo, entremeado de pequenos divertimentos e o terceiro, cheio de graça, em forma muito pura e característica.

O último tempo, que humoristicamente chamou BURRICO DE PAU demonstra, dentro da forma perfeita em que está construído, grande habilidade na produção do efeito sonoro que, no primeiro violino, reproduz onomatopaicamente, as mudanças cômicas da voz daquele animal.

Esse trabalho mostra de maneira evidente o grande conhecimento que ele possuía do gênero, constituindo para todos nós verdadeira revelação. É lastimável que na sua produção não fossem mais numerosas as realizações nesse gênero puro da música, acrescentando ainda mais uma base na formação do monumento musical brasileiro da música de câmara.


ÓPERA "SALVADOR ROSA"

Em 11 de março chega carta de Ghislanzoni, que já não está com Ponchielli, colocando-se à disposição de CARLOS GOMES. Rebouças e CARLOS GOMES então partem para Lecco, onde era a casa de Ghislanzoni, para contratar o libreto de "SALVADOR ROSA".

O contrato é assinado em 12 de março; com 1.500 francos pagos por CARLOS GOMES e 500 pelo editor.

Ficava o editor com propriedade da ópera para a Itália e CARLOS GOMES para o Brasil.

O seu lançamento acontece em 21 de março de 1874, no Teatro Carlo Felice, de Gênova. Com essa ópera, CARLOS GOMES foi definitivamente consagrado. Foi ela a mais cantada mais popular e mais querida em toda Itália.

Assinado o contrato com a Ricordi, começa a trabalhar febrilmente na casa alugada em Lecco, onde compõe a maior parte da ópera. "SALVADOR ROSA" gera discussões intermináveis entre ele e Ghislanzoni, que eram impulsivos e tinham a língua solta.

O principal assunto dessa ópera é o jogo político que está em relevo e não a história de amor, apesar de ela ser ilustrada por um longo e belíssimo dueto.
 


Apesar de a estética soar antiquada, CARLOS GOMES compõe música com alto refinamento.

 CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES

“HINO ACADÊMICO” -1


Branca nuvem de um róseo porvir;

Do futuro levais a bandeira,

Hasteada na frente a sorrir.

Mocidade, eia avante, eia avante!

Que o Brasil sobre vós ergue a fé;

Este imenso colosso gigante

Trabalhai por erguê-lo de pé!

O Brasil quer a luz da verdade,

E uma c'roa de louros também,

Só as leis que nos dêem liberdade,

Ao gigante das selvas convém!

Vossa estrela reluz radiante,

Oh! erguei-a vós todos, com fé,

Este imenso colosso gigante

Trabalhai por erguê-lo de pé!

É nas letras que a Pátria querida

Há de um dia, fulgente, se erguer,

Velha Europa, curvada e abatida,

Lá de longe que inveja há de ter!

Nós iremos marchando adiante,

Acenando o futuro com fé,

Este imenso colosso gigante

Trabalhai por erguê-lo de pé!

Orgulhoso o bretão lá dos mares

Respeitar-nos então há de vir,

São direitos sagrados os lares,

Nunca mais ousarão nos ferir.

Auriverde pendão fulgurante

Hasteai-o, mancebos, com fé!

Este imenso colosso gigante,

Trabalhai por erguê-lo de pé!

São imensos os rios que temos,

Nossos campos quão vastos que são!

As montanhas tão altas, que vemos,

De um futuro bem alto serão.

O futuro não vai mui distante,

Já podeis acená-lo com fé,

Este imenso colosso gigante,

Trabalhai por erguê-lo de pé!

Nossos pais nos legaram guerreiros,

Honra a glória, virtude e saber;

Nós os filhos de pais brasileiros,

Pela Pátria devemos morrer!

Mocidade eia avante, eia avante!

Que o Brasil sobre vós ergue a fé!

Este imenso colosso gigante,

Trabalhai por erguê-lo de pé!

O piano presente na república Cazuza, torna-a importante para CARLOS GOMES, com vinte e três anos na época e para outro residente, o poeta sergipano, de vinte e cinco anos, Francisco Leite Bittencourt Sampaio.

O "Hino Acadêmico" ou "Hino à Mocidade Acadêmica", apresentado durante concerto em benefício da Sociedade de Proteção aos Artistas, difundiu-se de imediato e CARLOS GOMES é consagrado e eleito o maestro dos acadêmicos e do povo.

Faz uma tournée com o irmão violinista Sant'Anna Gomes pelas principais províncias de São Paulo, hospedando-se em repúblicas estudantis. Esta vida entre amigos, de composições, festinhas, viagens, férias, fins-de-semana, saraus e diversões de juventude aconteceu entre os anos de 1857 a 1859, em que eles se encontram a beber, a jogar voltarete, a recitar versos, a narrar aventuras amorosas, a falar mal dos professores e da escola: uma época descompromissada e feliz.


CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES 2

Parte para a Itália em 9 de dezembro de 1863 no "Paraná", um paquete inglês.

Fica obrigado a escrever uma composição importante nos primeiros dois anos de permanência na Europa e a enviar certificados de sua frequência às aulas, em uma espécie de relatório.

Durante essa travessia marítima, ávido de música, compõe uma quadrilha com o título "Herdeira do Trono", para ser tocada no lugar do hino à rainha da Inglaterra – "God save the Queen" – pela orquestra de bordo.

A partir daí, o navio só tocava sua quadrilha. Desembarca em Lisboa onde fica por dez dias.


CONSELHOS

O texto da canção "Conselhos" é do Dr. Velho Experiente – pseudônimo de CARLOS GOMES:

Menina, venha cá, veja o que faz


Se por seu gosto o casamento quer

A vontade ao marido há de fazer

Que este dever o casamento traz.

Se o homem velho for, ou se ainda rapaz,


Tome a lição que ele quiser lhe dar.

Se funções e contradanças não quiser,

Também não queira, que é melhor para não brigar…

Procure de agradar, sem contrariar;


Pronta sempre a obedecer;

Tenha dele cuidados com amor…

Em quanto ao resto deixe lá correr.

Se ainda muito moço e arrebatado for,


Nada de ciúmes, que seria pior;

A mulher só faz o homem bom e mau:

Que assim como dá pão pode dar pau!

"Conselhos", designada como Canção Popular Brasileira, com texto em português, é uma brincadeira de CARLOS GOMES; dedicada a Isaura Castellões, filha do casal Castellões, seus compadres – Isaura é sua afilhada.


CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES - 3

Por intermédio de um anúncio no jornal de Campinas, do mês de janeiro de 1857, CARLOS GOMES começa a dar lições de música, canto e piano em uma escola noturna que fundou em sociedade com Ernest Maneille, que durou apenas um ano.

Então, CARLOS GOMES deixou o sócio e assumiu sozinho a responsabilidade de ensinar música. Fez a sua propaganda e publicou pelos jornais o anúncio de sua escola:

"O abaixo assignado declara ter dissolvido a sociedade que tinha com o Illmo. Sr. Ernest Maneille para aulas de música e que continua a leccionar na mesma casa e nas mesmas condições:


Lições de Canto 5$000

Canto e Música 6$000

Piano e Canto 10$000

Pagos adeantados.

Antonio Carlos Gomes"


CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES - 4

CIDADE DE COMO


É uma cidade na Lombardia que está a 45 km ao norte de Milão; atualmente tem uma população de aproximadamente 85.000 habitantes. Seu estilo é medieval na parte intra-muralhas e as colinas que a rodeiam eram habitadas em tempos pré-históricos.

LAGO DI COMO

É um lago de origem glacial que possui uma vista maravilhosa em toda sua extensão; com uma área de 146 quilômetros quadrados, é o terceiro maior lago da Itália, depois do Lago de Garda e do Lago Maggiore.

Tem mais de 400 metros de profundidade; é um dos mais profundos da Europa e o fundo do lago é de mais de 200 metros – 656 pés – abaixo do nível do mar.

Sua beleza de águas azuis, rodeado de montanhas e pequenas vilas de casas de alto padrão, é um local onde a maior parte da elite de Milão reside.



16 DE SETEMBRO DE 1896 - O POUSO DA ÁGUIA...

Chega a Belém em estado geral de total prostração, pois a longa viagem o debilitara. Todos do Pará se reúnem para vir em seu socorro. Uma junta de 23 médicos se reune na casa do maestro no dia seguinte à sua chegada, examina-o e diagnostica epiteolomia ou epitelioma, isto é, tumor maligno que atinge o epitélio, tecido que forma o revestimento da superfície externa do corpo e de suas cavidades. Mal de morte sem saída, ainda mais naquela época. 

CARLOS GOMES AOS 60 ANOS

Já não falava mais com clareza, quase não engolia e quando conseguia fazê-lo era com extrema dificuldade, usava uma vareta para apontar as coisas de que tinha necessidade e lápis e papel para comunicar-se – foi assim que avisou que deixara dois filhos em apuros em Milão, um deles muito doente e que fizera muitos empréstimos para poder ser operado em Lisboa e viajar para Belém sob garantia de seu seguro de vida, contraindo uma dívida de 17.000 liras.

A revelação do câncer veio à luz em viagem de Milão para Belém, quando aportou em Lisboa, onde o diagnóstico e primeiros atendimentos foram feitos para surpresa e consternação da imprensa lisboeta.

ÚLTIMA FOTO DE CARLOS GOMES

São divulgadas as alarmantes perspectivas para o futuro próximo de CARLOS GOMES, noticiava-se que ele, de fato, havia embarcado em Lisboa, a bordo do Obidense, com destino ao Pará.

Já em terra, o maestro, em carruagem que lhe foi destinada, dirigiu-se à casa que o Governo do Estado preparara para hospedá-lo, sendo acompanhado por um cortejo em que políticos, artistas e intelectuais juntavam-se a populares, uma residência de propriedade do Visconde de São Domingos, seu compadre e amigo particular. Localizada no n. 59 da atual Travessa Quintino Bocaiúva, a nova moradia, um belo exemplar paraense da segunda metade do século XIX, ficava fora do centro, distante do movimento reinante no coração de Belém.

Segundo o Diário de Notícias de 16 de Maio de 1896, um grupo de médicos paraenses reuniu-se para discutir sobre o estado de saúde de CARLOS GOMES.

Em outras palavras, CARLOS GOMES morreu cercado de atenção, apoiado pela ciência da época e não abandonado à própria sorte.

Vota-se uma pensão mensal de dois contos de réis enquanto viver, assegurando a seus dois filhos um salário de quinhentos mil réis para cada um após a morte do pai – para Carletto até que completasse vinte e cinco anos e para Itala até que se casasse, quando receberia um dote de trinta contos.

CARLOS GOMES recebe o despacho das mãos de Campos Sales.


E o maestro diz:

–“Nunca! Nunca! Jamais lançarei mão desse dinheiro! Jamais!”–. E não aceita, jogando o despacho no chão.

Em 5 de julho, em total estado de fraqueza, toma posse como diretor do Conservatório de Música do Pará em meio a solenidades, discursos e bandas de música.


Em seu aniversário, dia 11 de julho, muitos amigos o visitam em seus aposentos da casa na Rua Quintino Bocaiúva – não o deixam só nem desamparado, alguém sempre o acompanha em sua agonia – a doença progredia rapidamente.


Às dez horas e quinze minutos da noite de 16 de setembro de 1896 morre o maestro

Silio Boccanera Junior escreve:

Às 10 h 35min, o boletim:


“Expirou o eminente maestro. Cerrou-lhe os olhos o Dr. Lauro Sodré… A morte de CARLOS GOMES foi completamente serena. O arquejar regularíssimo diminuiu a pouco e pouco e o último suspiro esvaiu-se num ofego quase imperceptível. A expressão do rosto é serena.”

Nenhum sacerdote visitou CARLOS GOMES em sua agonia e nem na hora da morte. Ele não recebeu extrema-unção nem hóstia consagrada talvez porque fosse maçon, mais um gesto incoerente e desumano da Igreja Católica. Num gesto piedoso, o Dr. Pedro Clermont colocou-lhe sobre o peito um crucifixo na hora final.

O Atestado de Óbito foi firmado pelos Drs. Almeida Pernambuco e Holanda Lima e declarou que o maestro faleceu às 10 h e 20 min da noite de 16 de setembro de 1896, na casa nº 59, na Travessa. Quintino Bocaiúva, de cachexia cancerosa, sob nº 2265, lavrado em 17 de setembro de 1896 às fls. 115 v. e 116 do livro nº 24 do Cartório do Primeiro Ofício de Nascimentos e Óbitos de Belém.



Na manhã do dia 17 de Setembro, decretado feriado estadual, a cidade já indicava os sinais da oficialização da dor, com o fechamento das repartições, das escolas e do comércio e com a bandeira brasileira hasteada a meio pau nos edifícios públicos e nas associações culturais e profissionais – os consulados também o fizeram com os pavilhões dos seus respectivos países.

Segundo Silio Boccanera: “CARLOS GOMES morreu, porém, torturado por mil dissabores e pela angústia de não ter sido compreendido nem auxiliado, senão por meia dúzia de amigos e fiéis companheiros.”

Há autores que relatam a morte de CARLOS GOMES como manchada pela infidelidade, com o maestro morrendo abandonado numa rede suja, ao contrário da realidade. O seu funeral foi repleto de celebrações religiosas nunca vistas em Belém do Pará.

Esse desabafo de CARLOS GOMES confidenciado a Bierrenbach é de uma carta de 1895 enviada de Pernambuco (a bordo do vapor Brasil do Lloyd Brasileiro) ao seu compadre Manoel José de Souza Guimarães:

“Desde Milão fiz-te ciência do motivo urgente que me levava a Belém… Qualquer que seja, porém, o clima do Pará, quaisquer que sejam os perigos do clima para mim, eu creio que será forçoso voltar para lá no próximo mês de junho de 1896.

Eis aqui uma longa história de sacrifícios que eu não te poderei contar nem descrever… O Rio de Janeiro não é para os bicos do teu pobre compadre…

O Conservatório do Rio de Janeiro é só para gente de alto merecimento. O Governo Federal está acostumado a fazer justiça? O destino, compadre, tem sempre uma força relativa, mas é por causa desta força que eu ando muito resignado e quase indiferente às injustiças do Governo Federal a meu respeito. A minha saúde tem sofrido muito ultimamente; além disso a minha moléstia na boca piorou no Pará.

Mas, o que fazer? No Rio não me querem nem para porteiro do Conservatório. Em Campinas e São Paulo idem.

No Pará, porém, me querem de braços abertos! Não me querem no Sul, morrerei no Norte que é toda a terra brasileira! Amém!”


Eis o decreto que declara o dia 17 de Setembro, feriado no estado do Pará: 

“Decreto nº 316 de 17 de setembro de 1896 – Feriado dia 17 de setembro do corrente ano – O Governador do Estado, em homenagem à memória do maestro CARLOS GOMES, resolve declarar feriado em todas as repartições do Estado o dia de hoje – Palácio do Governo do Pará, 17 de setembro de 1896 – Lauro Sodré.”

FRASES DE CARLOS GOMES:


"CADA VEZ ME CONVENÇO AINDA MAIS DE QUE A ARTE E OS ARTISTAS DE
ALGUM MERECIMENTO, TODOS REUNIDOS, VALEM NADA, EM COMPARAÇÃO A UM SÓ DA
POLÍTICA."


 “SE EU MORRER LONGE DO MEU BRASIL, QUERO QUE CUBRAM MEU ESQUIFE COM A BANDEIRA AURI-VERDE DA MINHA PÁTRIA E COM ELA QUERO SER ENTERRADO." 

"(...)MAS TODOS JÁ PODEMOS CALCULAR A RUÍNA QUE ISSO ACARRETARÁ...NÃO CUIDO
DE POLÍTICA, NEM DA DO MEU PAÍS, MAS INFELIZMENTE CONHEÇO MELLO E
PEIXOTO DE PERTO E RECEIO QUE ISTO SEJA APENAS O COMEÇO !"
( em carta ao amigo Tornaghi, a respeito da República)


 “NÃO LEVAREI SAUDADE DO MUNDO NEM DO GOVERNO DA REPÚBLICA QUE TÃO INJUSTO TEM SIDO COMIGO."

 "EIS POR QUE LHE DISSE QUE A MINHA TRISTE SITUAÇÃO É COMO AQUELA DO NÁUFRAGO À VISTA DO PORTO !"

"FALTANDO A CALMA DO CORAÇÃO, FALTA A PAZ DA ALMA; FALTA O ARTISTA, MORRE O HOMEM."

Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado.




 





 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 23







CONDOR

De três a cinco meses é o de que necessitou para escrever "CONDOR", aliás, mais um esforço de verdadeira criatividade que o faz superar-se tecnicamente em relação a tudo o que escrevera, apesar do pouco tempo que teve.

Aos 55 anos, trabalhou dia e noite fumando muito e bebendo muito café. O maestro já estava doente, mas não se cuidava.



Em agosto de 1891, veio pessoalmente ao Rio para supervisionar a produção da estreia brasileira, mas a ópera não alcançou o sucesso esperado.

No Brasil, a República e na Itália, a giovane scuola contribuíram para o desinteresse, não justificável, mas totalmente compreensível, diante do valor artístico da obra do genial maestro. Era mais que natural que houvesse desinteresse também pelas óperas de CARLOS GOMES.


 
Todos os de sua geração, Ponchielli e Verdi inclusive, passam por um período de baixa dos espetáculos de ópera no mundo inteiro.

Não houve decadência da música de CARLOS GOMES, nem da de Verdi. O que houve foi uma nítida redução de interesse do público e consequentemente, dos empresários e da imprensa. Muita gente boa da história da música passou por semelhante problema, teve um final de vida obscuro, enquanto suas obras atingiam o máximo de rendimento, aproximando-se da perfeição.


Para CARLOS GOMES foi um grande prêmio o triunfo de "CONDOR" na estreia em Milão em 21 de fevereiro de 1891 e nas suas nove apresentações seguintes, apesar de ele mesmo reconhecer não se tratar de uma ópera de fácil compreensão.

O prelúdio é visto como um verdadeiro diamante.



CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES

O Conservatório de Música do Rio de Janeiro, como a maior instituição musical brasileira de todos os tempos, teria, entre outras, a atribuição de indicar ao Governo Imperial e não ao Imperador, o nome de um aluno que demonstrasse aptidões excepcionais ou de um artista julgado merecedor, a fim de que fosse aperfeiçoar-se na Europa, à custa do Tesouro Público, por intermédio de uma série de leis e decretos:

“Aos professores reunidos em Junta compete:

– Fazer ao governo as propostas de que trata o art. 2 e 4.

– Propor ao governo, de cinco em cinco anos, o nome de algum aluno ou artista que se haja distinguido por seu talento transcendente a fim de ser mandado à Europa, aperfeiçoar-se na música.”


CARLOS GOMES deveria seguir para a Europa, não à custa do dinheiro público, mas de empresários teatrais particulares:

Art. 2, § 7: Os empresários são obrigados a manter à sua custa na Europa o aluno que o diretor do Conservatório de Música designar para se aperfeiçoar na arte da composição musical.

O contrato que o Governo Imperial celebrou em 1º de setembro do ano p.p. com uma nova empresa para sustentação da Ópera Lírica Nacional, no § 7 do art. 2, impõe a condição seguinte: Os empresários são obrigados a manter à sua custa na Europa o aluno ANTONIO CARLOS GOMES, que se acha em aptas circunstâncias, o qual foi por intermédio desta Academia e contra sua vontade, honrado com o hábito da Imperial Ordem da Rosa pela sua primeira ópera – A Noite do Castelo – e que acaba agora de apresentar a sua ópera Joanna de Flandres com feliz sucesso, confirmando assim seu notável progresso (…)


Logo depois de sua escolha pelo Conservatório, recebe de Francisco Manuel a comunicação de sua indicação:


Rio, 30 de outubro de 1863

“Snr. ANTONIO CARLOS GOMES

Como diretor do Conservatório de Música da Corte do Rio de Janeiro, lhe faço saber, que tendo Vm.ce sido por mim nomeado para, na qualidade de aluno do mesmo Conservatório, ir completar os seus estudos de composição em Milão: o Exmo. Sr. Marquês de Olinda, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, dignou-se a aprovar essa nomeação em Ofício a mim dirigido com data de 24 de outubro do corrente ano e bem assim, determinar o prazo de quatro anos para o dito estudo e com a pensão anual de 1:800,000 (moeda corrente) que lhe será paga nesse país em trimestre adiantado.

Tendo ainda a comunicar-lhe que, pelo mesmo Ministro, será expedida à Legação Brasileira em Turim, as recomendações necessárias para auxiliá-lo na sua missão, assim como para fazer cumprir as instruções durante sua estada na Europa, das quais Vm.ce receberá uma cópia, além da que vai oficialmente dirigida a dita Legação.

Francisco Manoel da Silva

Diretor do Conservatório de Música”


No Diário do Rio de Janeiro de 6 de setembro, lê-se:


“Aplauda-se sem reserva ao mancebo ousado, que sem incerteza e tentamen ganhou num dia a coroa artística tão invejada que tantos gênios tem banhado com suores de sangue e de angústias! (…)”



FRASES DO MAESTRO: 


1.  Em 4 de outubro de 1894, escreve a Salvador de Mendonça:

(...)“PROPUS A FUNDAÇÃO DE UM CONSERVATÓRIO DE MÚSICA EM CAMPINAS, DIRIGIDO POR MIM: OFERECÍ-ME PARA OS CONSERVATÓRIOS QUE ESTÃO SENDO PROJETADOS EM PERNAMBUCO, EM MINAS - NEM RECEBI RESPOSTA.”

2. “SE EU MORRER LONGE DO MEU BRASIL, QUERO QUE CUBRAM MEU ESQUIFE COM A BANDEIRA AURI-VERDE DA MINHA PÁTRIA E COM ELA QUERO SER ENTERRADO."

3. “MEU REINO POR UM LIBRETO."

Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado.









domingo, 22 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 22






CRÍTICAS DA ÉPOCA SOBRE "O GUARANI"

Comentário de FRANZ LISZT segundo o testemunho de Giovanni Sgambati na Revista Cultura, de Brasília, em abril e junho de 1971, sobre "O GUARANI":

FRANZ LISZT

    “Custa-me acreditar que esta ópera seja a primeira de um jovem, pois é densa de amadurecimento técnico, de novidades harmônicas e orquestrais e, acima de tudo, exprime tão original sensibilidade emotiva, decididamente dramática, que desafia as regras fixadas nos conservatórios e, ao mesmo tempo, as respeita superiormente, quando me deixa entrever uma terra longínqua, que se apresenta a nós, europeus, como uma revelação de horizontes luminosos e de tenebrosas e intermináveis florestas, através de uma sensibilidade mediterrânea ensolarada e de plácidos reflexos azuis de céus infinitos.

Eu sinto, porém, que o nacionalismo de Gomes não é premeditado; é uma necessidade, um estímulo espontâneo de seu espírito, que dá à sua música uma vida cheia e flagrante de novidade tropical.”


O IL TROVATORE, de Milão, em 17 de março de 1870, publica a respeito de "O GUARANI":

 “Carlos Gomes, um pouco selvagem em todas as suas coisas, o é em grau superlativo nos ensaios das suas óperas. Os executantes da música de Gomes, além das muitas dificuldades que encontram com todos os maestros, encontraram uma especialíssima com o maestro brasileiro, que ao contrário de Boito e de Ponchielli – que cantam como verdadeiros cães – tem uma bela voz, canta muito bem e interpreta a própria música com uma excelência de arte que nenhum ator sabe alcançar.

O maestro está sempre descontente; os executantes sempre desesperadíssimos e o estão mais nos ensaios, porque Gomes não fala, não corrige, não admoesta, não ensina, não pede, não suplica, como fazem todos os outros maestros; nada de tudo isto.

Gomes, quando a execução não está segundo suas ideias, pula da cadeira, passa as mãos na sua cabeleira leonina, põe-se a correr como um possesso pelo palco e solta gritos ensurdecedores, que se assemelham ao alarido selvagem do Guarani, do Ciaco ou do Puelche.”


Escreve a esse respeito de "O GUARANI", o cronologista Barbieri:

“O maestro brasileiro, de bastíssima cabeleira desgrenhada, de olhos negros ardentes como carvões acesos, verdadeiro tipo de selvagem genial, foi apresentado à Maffei pelo Aleardi, que o recomendou e não em vão. Em 19 de março de 1870, no Teatro alla Scala, representou-se O Guarani daquele maestro então com trinta anos e a ópera agradou, foi repetida, saiu do Scala, percorreu o mundo.”

Anos mais tarde, num artigo da GAZZETTA MUSICALE de 1878, de GUSTAVO MINELLI, recorda:
 
“A noite na qual se apresentou pela primeira vez O Guarani no Scala, a ópera foi assaz aplaudida. O público pede com insistência o autor; quer saudar o grande maestro. Gomes é procurado por toda parte; não é encontrado em lugar algum. O público se impacienta e faz estrépito. Ele é procurado de novo e finalmente alguns amigos o descobrem no mais alto passadiço do palco do teatro.

– Mas o que fazes aí, enquanto todos te aplaudem e te pedem?

– Eu? … me aplaudem?… Temia que fossem desaprovações e assobios!… Vaiado em Milão, eu seria desonrado no Brasil!… E depois, o que diria o meu imperador, o meu pai, se eu tivesse fracassado, depois de tantos sacrifícios que fez por mim ?… Não poderia sobreviver a um insucesso!… Vim aqui para me matar se O Guarani tivesse sido vaiado!

Teve de descer à força do passadiço, foi arrastado como um verdadeiro selvagem para o palco. O público o acolhe com uma explosão de aplausos; sem poder imaginar que, naquele momento, não apenas julgara uma ópera, mas talvez salvara a vida de um artista tão nobre e distinto.”


O LA  LOMBARDIA, de Milão, em 21 de março de 1870, publica a respeito de "O GUARANI":

 
“Dezoito chamadas ao Maestro Gomes consagraram o sucesso de sua ópera Il Guarany, representada ontem de noite no Teatro Scala. E os fragorosos aplausos oferecidos pelo numerosíssimo e seleto auditório ao simpático jovem não eram de puro cumprimento ou cortesia, mas de arrebatamento face às numerosas belezas que a partitura contém realmente (…)”

Dez anos depois da estréia, o JOURNAL DE NICE, 1880, sobre O Guarani, assim se pronunciou:

“A obra de Gomes revela muito estudo e ciência instrumental. Ela inclui inúmeras belas partes (…) Destaca-se especialmente a sinfonia, em que há flashes de genialidade e originalidade, linhas melódicas espontâneas e claras e os dois duetos soprano-tenor são maravilhosos. O segundo e o terceiro atos são brilhantes. Essa é a impressão deixada pela primeira audição desta ópera. Estamos convencidos que terá muito sucesso, pois, repetimos, mostra música de primeira classe que ninguém se cansará de ouvir. E também a execução terá o mesmo sucesso, visto ser excelente.”

LAURO ROSSI, seu professor, escreveu após a estreia da ópera no Scala: 

“Meu caro discípulo, já Maestro,

Dizer-te do orgulho de que me sinto possuído é impossível e é inútil. Posso afiançar apenas uma coisa: até hoje não me consta que maestro algum, em idênticas circunstâncias, colhesse vitória igual à de O Guarani. Foi um arrebatamento geral, tanto quanto menos esperado. O telégrafo leva por toda parte notícia, referindo-se, nos países nórdicos, ao sucesso do jovem Karl Gomes… Encho-me também de glória, estreitando-te em meus braços, feliz de te considerar meu colega."


SALVADOR DE MENDONÇA, que em depoimento no JORNAL DO COMMERCIO, em 2 de junho de 1905, declara:

SALVADOR DE MENDONÇA

“VERDI, em uma entrevista à GAZZETTA FERRARESE, em 15 de maio de 1872, disse:

“Egregio Sig. Avv. G. Pesetti,

Direttore della Gazzetta Ferrarese:


Ella mi ha domandato una intervista e poichè ne indovino subito il motivo, sono qui a contentarla con pochi tratti di penna.

Ho assistito con grande mia soddisfazione all’opera del collega Gomes e posso affirmarle che la medesima è di squisita fattura e rivelatrice di un’anima ardente, di un vero genio musicale.

Anche l’esecuzione mi è piaciuta. Il valoroso tenore Bulterini, in ispecie, canta divinamente bene tutta la sua parte.

L’accoglienza entusiastica del resto, fatta dall’intelligente pubblico Ferrarese cosi al lavoro ad al suo autore come agli esecutori, vale assai più del modesto mio giudizio.

In fretta mi segno devotissimo suo


G. VERDI”

GUIMARÃES JUNIOR diz, a respeito de "O GUARANI":

GUIMARÃES JUNIOR

“O teatro inteiro rompe em aplausos frenéticos a cada trecho, depois de cada ato são 15, 16, 18 chamadas ao autor e, no fim da ópera, público, adversários e maestros estão vencidos, subjugados, e rendem a devida glória ao novo astro que surge. O público, em delírio, aclamava o maestro com repetidas chamadas sob uma tempestade de aplausos como raras vezes ecoaram tão fragorosos na sala austera daquele teatro.”

Crítica de FILIPPO FILIPPI sobre "O GUARANI":

FILIPPO FILIPPI

 “Acabo de sair do teatro, depois de ter ouvido a longa e não fácil música do jovem compositor brasileiro, a quem o público do Scala dispensou ontem à noite a mais cordial acolhida. A música de Gomes é não só obra de um jovem estudioso e ardente: existe nela a inspiração e a originalidade, qualidades, no entanto, prejudicadas pelas longuras, pelos titubeios de estilo. Contém alguns trechos de valor excepcional especialmente do lado da invenção melódica e do calor afetuoso.”


O crítico do jornal O PALCOSCENICO diz:

“O Guarani demonstra encerrar em si, bastante vigor e força de expansão para fazê-lo manter-se, sempre com muita honra, não somente em nossos principais teatros, mas também em todos os teratros da Itália e do estrangeiro.”

FILIPPO FILIPPI, o famoso crítico musical, escreve ainda sobre "O GUARANI":

“Aquela estranha originalidade, que o distingue entre os gênios da música, é que o incita a escolher melhor os seus libretos. O jovem maestro soube aproveitar todas as boas situações do drama, escrevendo música que revela uma originalidade latente, que não tardará a se desenvolver ainda mais nos seus próximos trabalhos.

O primeiro ato é perfeito do princípio ao fim, cheio de motivos frescos, que denotam em Carlos Gomes uma bela fantasia, além da suma elegância na forma da instrumentação. A batalha de Ceci é uma verdadeira joia musical. A forma é graciosa, o pensamento gentilíssimo e muito bem instrumentado.

O terceiro ato é um magnífico quadro selvagem, muito bem idealizado, com muita coisa absolutamente inédita e original, que fascina.

O coro dos Aimorés, a romanza do Cacique, o consertante e a imploração ao Deus Selvagem, são trechos verdadeiramente dignos de um grande mestre.

No quarto ato, o trecho verdadeiramente belo é o duelo entre o tenor e o baixo.

Apesar de algumas desigualdades e hesitações, é uma das raríssimas obras que indicam um mestre cheio de talento, de fantasia e de saber musical.”



Em 4 de dezembro de 1870, o JORNAL DO COMMERCIO publicava sobre "O GUARANI":

"Por mais que antecipadamente se falasse de O Guarani, por mais que se exaltasse a obra do inspirado talento de Carlos Gomes, estamos que, caso raras vezes visto, para quantos assistiram anteontem à primeira representação, a realidade foi muito além da expectativa. Entre as phrases de admiração que nos entre-actos se cruzaram, as mais calorosas partiram exactamente daquelles que mais incrédulos se haviam mostrado antes.”

TAUNAY fala a respeito desse notável acontecimento musical:

TAUNAY

“Foi o ponto máximo da musicalidade nacional. Enfim, o Brasil tem um verdadeiro mestre, destacado entre os mestres, sereno e revoltoso, preso às suas origens, que fez ultrapassar nas pautas o território de sua pátria. O povo branda feliz. Viva o Imperador! Viva Carlos Gomes! Viva o Brasil!”


O prof. VINCENZO CERNICCHIARO, que com 16 anos já tocava violino na orquestra dos teatros líricos, diz a respeito de "O GUARANI":“Foi uma noite de exuberante exaltação, de palpitante entusiasmo e de um deslumbramento de luzes que nossas jovens almas jamais deveriam esquecer, através das emoções ardentes das primeiras notas de uma ópera que penetrara com delírio no coração de um público de eleição.

Era toda a inspiração do gênio brasileiro e a poesia selvagem do início longínquo da jovem Pátria amada.


O teatro “Provisório”, demolido depois em 1878, erguia sua tosca mole no Campo de Sant’Anna, rodeado de silêncio e da pálida luz de alguns lampiões de gás, mas naquela noite parecia estar envolto como num fluído imponderável de angustiosa expectativa que o iluminava.

Às 8 horas a sala transbordava de espectadores. Os olhos dos intelectuais e dos demais assistentes irradiavam reflexos estranhos ! A respiração era irregular, os corpos agitavam-se nas poltronas esperando numa cálida atmosfera as inefáveis sensações que cada um deles experimentaria ao primeiro contato com as melodias da ópera do glorioso compositor patrício.

Na tribuna imperial, ao lado da cena, quatro poltronas de espaldar dourado aguardavam Suas Majestades, que deviam assistir ao espetáculo.

Nos camarotes de primeira ordem, as mais ilustres famílias de uma aristocracia que devia desaparecer com a República, brilhavam de elegância e sorriam de contentamento.

José de Alencar, o ilustre escritor, assistia também ao espetáculo, deliciando-se ao desenrolar das harmonias que acrescentaram tamanho brilho e nova imortalidade à sua obra literária.


No antigo camarote imperial, colocado em frente ao palco no fundo do teatro ricamente enfeitado, tendo de cada lado dois imensos candelabros com velas acesas, presidia a comissão dos conterrâneos do Maestro, vinda especialmente de Campinas para assistir à apoteose e prestar homenagem ao ilustre campineiro a quem entregaram em nome da cidade um rico presente.

Era uma grande medalha de ouro com um brilhante engastado de subido valor.

A perspectiva era estupenda ! Finalmente, o sino do palco deu o último sinal e a orquestra após haver tocado o Hino Nacional, dá início aos primeiros compassos da ópera.

Regia a orquestra o Maestro Angelo Ferrari, artista de eleição que aos bons tempos do velho Teatro Lírico, já havia feito conhecer aos fluminenses as óperas de Meyerbeer, de Gounod e de outros mestres.

Levantou-se o pano de boca de cena e, como era de prever, após cada um dos trechos da música imortal que já havia transportado num delírio de entusiasmo a culta e dificílima platéia do Scala de Milão, ecoaram rajadas de aplausos.

Homens e senhoras de pé aplaudiram aclamando o Maestro.

Os intérpretes e o Ferrari também foram chamados inúmeras vezes ao proscênio, assim como o soprano Gasc, o barítono Spalazzi, o tenor Lelmi e o baixo Ordinas.

O Imperador e a Imperatriz sorriam desvanecidos, o público fascinado, a Pátria toda, enfim, tinha o orgulho de poder dizer:

- “O Brasil tem um Mestre digno dos Mestres do Velho Mundo !”

No fim da ópera o público havia atingido o ponto máximo do entusiasmo e a coroar o clamoroso sucesso, o Imperador manda chamar Carlos Gomes para lhe conferir a Comenda da Ordem da Rosa.

O público, ignorando a razão que impedia o Maestro de comparecer mais uma vez ao palco, continuava a aplaudir com frenesi, reclamando o autor em altos brados.

Quando finalmente Carlos Gomes reapareceu na cena com a condecoração no peito, a massa compacta dos espectadores, de pé, agitando os lenços prorrompeu num brado de entusiasmo que saía de todos os corações.

- “Viva o Imperador !”

- “Viva Carlos Gomes !”

Era como o grito fremente da Pátria agradecida, a saudação fraternal, a apoteose de glória da arte musical brasileira.

O artista já aclamado na Europa devia estar profundamente comovido, vendo-se enfim rodeado em sua terra natal de uma muralha de afeições admirativas que os inimigos não puderam derrubar naquele momento solene.

Durante os ensaios, a hostilidade de alguns professores de orquestra (brasileiros) que por espírito de antagonismo não admitiam as justas observações do Maestro, zeloso de obter uma execução perfeita como havia sido a do Scala de Milão, provocou incidentes desagradabilíssimos e certa vez Carlos Gomes, perdendo a paciência, jogou por terra a partitura e fugiu do teatro.

Era o prólogo das desgraças e das guerras que lhe haviam de fazer em sua própria Pátria no correr de toda a sua existência.”


FRASE DO MAESTRO:


“MEU REINO POR UM LIBRETO."

Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado.




 



sábado, 21 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 21







REFRESCANDO A MEMÓRIA

PUBLICAÇÃO DO JORNAL CORREIO POPULAR DE CAMPINAS, DE 27 DE JUNHO DE 2010
(clique na notícia para ampliar)






Lápide da Sepultura de Carlos André - Itália - (do cervo da autora de 'Olhos de Águia')

COMENTÁRIO DA DENISE - 2010:

Como eu já esperava, pois, sou campineira e conheço bem este povo daqui, meu projeto de tentar trazer os restos mortais do filho de CARLOS GOMES pra junto do pai, não foi aceito pela CONDEPACC.

Argumento: "...o monumento é uma homenagem da cidade ao maestro e não à sua família."

E eu digo: pelo visto, não "captaram" o sentido de tudo: a intenção é homenagear CARLOS GOMES, trazendo pra junto dele seu filho, por quem CARLOS GOMES tanto lutou para impedir que a tuberculose o vencesse e o levasse e que morreu dois anos depois do pai.


Quanto à família "paralela", pois, o maestro não teve netos, esta tem apenas que sentir-se presenteada por ter "seu sangue correndo nas veias". E, por ter "seu sangue correndo nas veias", deveria ter feito muito por ele e não fez.

Só quem conhece profundamente a vida de CARLOS GOMES, sabe que era o único filho (havendo também uma filha - Itala, que está enterrada no Rio de Janeiro)que acompanhou passo-a-passo a vida do pai, que veio ao Brasil várias vezes com o pai e que fez muitos esboços de cenários das óperas do pai. Isso, quase ninguém sabe.
 


Ninguém está querendo conspurcar o Monumento de CARLOS GOMES, a propósito, pra quem não sabe, CARLOS GOMES foi enterrado, quando chegou de Belém do Pará, no jazigo da família Ferreira Penteado, POR CARIDADE, POR FAVOR, "QUEBRA-GALHO", porque sua cidade não arrumou um pedaço de chão pra ele repousar.(teve um mes pra arrumar, uma vez que o corpo do maestro levou este tempo pra vir de Belém pra cá. E só veio, porque Campinas pediu, pois, eles o queriam LÁ !)

Este pedido de Campinas, não foi um pedido de amor, foi puro interesse: era o corpo do famoso compositor que, a partir deste momento já não incomodava mais: estava morto e como tal, passava a interessar e muito a partir de agora.

Campinas soube reclamar o corpo do maestro, mas não providenciou um lugar decente pra ele repousar. Coube, mais uma vez, aos amigos do maestro fazê-lo.

Aos que votaram sem entender bem qual é a intenção: o que se pretende é ENTERRAR as cinzas de Carlos André Gomes no TÚMULO da família, ou seja, no Monumento-TÚMULO do maestro campineiro (coitado...) ANTONIO CARLOS GOMES.

Será que é tão difícil de entender isto ?

Um túmulo é um túmulo, seja embaixo daquele Monumento, seja no Cemitério ou seja apenas uma cova rasa. (e olhe que, se não fosse a família Ferreira Penteado, ele teria esperado o famigerado "Monumento-Túmulo" numa COVA RASA.

Tem outro detalhe a esclarecer: a família não tem nada com este projeto em questão, aliás, a família nem sabia disso até hoje. É um projeto meu, pois, surgiu quando estive no Cemitério de Milão e senti muita tristeza por ver que até isso foi negado a Carlos Gomes. Coube na época, ao país, este gesto de reconhecimento por tudo o que ele fez pelo Brasil.


Mas não, enterrou-se um brasileiro, filho do Compositor das Américas...na Itália.

Isto só prova que o Brasil não respeita seus expoentes.


Tem outra... não quero banda, nem orquestra, nem alarde, não.

Só pretendo fazer justiça: O Brasil, São Paulo, Campinas não encheram a boca pra apregoar aos quatro cantos do mundo que os filhos de CARLOS GOMES eram italianos?

Pra quem não sabe, CARLOS GOMES os naturalizou BRASILEIROS !


E como brasileiro, filho legítimo do ilustre filho de Campinas (coitado...) ANTONIO CARLOS GOMES, Carlos André tem mais é que estar aqui, ao lado do pai.

Os mais agnósticos diriam: pra quê trazer o filho pra cá ? Já estão mortos mesmo !  

Respondo: por RESPEITO... por AMOR... por CONSIDERAÇÃO... por REMISSÃO de todos os pecados cometidos contra ele !!!!!!!!!!!!!

Às vezes acho que não querem abrir o túmulo, de medo do que se pode achar lá... afinal não vê manutenção faz tempo !!!! Será que é isso ?


Se é tão importante assim para Campinas, não se conspurcar o Monumento-Túmulo do maestro, para trazer para junto dele, no Túmulo DELE, seu filho; se CARLOS GOMES passou a ser tão importante assim, por que está sendo depredado a olhos vistos e ninguém se mexe ?


E tem outra: ninguém enterra ninguém em Monumento- Túmulo... enterra-se apenas no Túmulo !!!!!!! E, neste caso, o Monumento fica agradecido, pois, finalmente será "EXAMINADO".

Este é um exemplo de como se deve cuidar de um "homenageado". Um busto extremamente bem cuidado, num jardim imenso e lindo !

Ghislanzoni foi o libretista de óperas de CARLOS GOMES e seu amigo íntimo.
Nascido nesta cidade, LECCO, onde CARLOS GOMES construiu sua casa - Villa Brasilia.

PUBLICAÇÃO DO JORNAL CORREIO POPULAR DE CAMPINAS DE 1 DE JULHO DE 2010
(clique no recorte para ampliar)


COMENTÁRIO DA DENISE - 2010:

O DIREITO DE UNIR A FAMÍLIA (título dado pelo Correio)
 

 Esquecí-me de colocar título em meu texto,uma vez que retirei o mesmo daqui do blog então o jornal colocou este título. Eu teria colocado outro.

E, encurtei um pouco, uma vez que o limite de palavras para publicação é de 4.000 palavras. Só por esta razão.

Corrigindo: ninguém enterra ninguém em monumento-túmulo, enterra-se apenas no túmulo ! E, neste caso, o monumento agradece, pois, finalmente será "examinado".

Mas sabem usar o nome de CARLOS GOMES pra festa junina, pra pano de fundo de discurso político... pra encher o peito lá fora e dizer "Sou de Campinas, terra de CARLOS GOMES !"


FRASE DO MAESTRO:

"NO PARÁ, PORÉM, ME QUEREM DE BRAÇOS ABERTOS ! NÃO ME QUEREM NO SUL, MORREREI NO NORTE QUE É TODA TERRA BRASILEIRA ! AMÉM !"