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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

UM POUCO DE CARLOS GOMES 16





MÚSICA DE CÂMARA

A câmara de CARLOS GOMES, como a obra musical e vocal, possui elementos  que afirmam seu espaço no universo de sua composição da mesma forma que  as óperas, porém sempre passou para o segundo plano, como uma obra  menor.

O melhor meio de se fazer conhecer a obra de grandes  compositores são os pequenos concertos. A música de câmara não possui os  elementos cênicos que criam o clima envolvente de uma ópera, nem o  impulso sonoro de uma orquestra, coro e solistas que o lírico possui,  mas contém a mesma beleza da linha melódica, a dramaticidade, a riqueza  de acompanhamento e a utilização de recursos vocais na interpretação.

Modinhas  e canções saíram dos salões imperiais para as ruas em forma de serestas  e foi nas ruas, pelo povo, renascendo através dos tempos.


Essa foi uma parte da obra de CARLOS GOMES que chegou ao Brasil aos  pedaços, descaracterizada, trazida por curiosos, amigos da família,  algumas por ele mesmo, a maior parte depois de sua morte.

Dispersos pela Itália, os originais ainda estão por lá, assim como outros documentos ligados a ele.

Muitas  informações se perderam, muita confusão se criou ao atribuir a ele  peças que não lhe pertencem, comprometendo a identificação de seu  estilo.


Canção e modinha são apenas duas das maneiras que ele encontrou para indicar o gênero de suas composições vocais para câmara.

Outros  termos, como canzonetta, canzonatura, arietta, lamento, meditazione,  Idilio, Barcarola, servem mais para sugerir a linha de interpretação  desejada pelo autor, com base no tema proposto pelo texto do que  propriamente para definir a forma musical.


A modinha brasileira de salão, a música popular do interior paulista da  época, a música de banda e os lundus dos escravos, misturados à música  dos grandes compositores europeus com os quais iria manter contato,  seriam os elementos de sua estética musical muito bem definida já em  suas primeiras óperas compostas no Brasil, causando a admiração nos  europeus em "O GUARANI" de 1870, na "FOSCA" de 1873 e em "SALVADOR ROSA"  de 1874 e influenciando novos estilos e novas estéticas de compositores  italianos de ópera.

A influência da música italiana na obra de CARLOS GOMES é evidente e não  poderia ser diferente: seus estudos foram feitos na Itália e sua  relação com os grandes compositores da época deixou uma forte impressão,  marcando sua escrita musical.

Mas antes de sua partida para a  Itália, as escolas e os músicos com quem manteve contato no Brasil não  escapavam à influência musical italiana.


CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES

Em maio de 1876, o Barão de Javari, remete um telegrama de Roma, com ordens do Imperador:

“Maestro Carlos Gomes – San Pietro all’Orto 16 – Milão

O Imperador  quer que o Sr. componha Hino para ser tocado em Philadelphia a 4 de  Julho, recebo telegrama ordenando dizer-lhe isto.

S.M. não admite  desculpa – responda telegrafo – resposta paga – Ontem lhe escrevi pelo  correio – Barão de Javari – Ministro do Brasil.”
CARLOS GOMES a princípio, se nega:

“Milão, 20 de abril de 1876

Meu  poeta e amigo: Estou desolado, mas falta-me tempo material para isto…  com o remodelamento da Fosca e com minha nova ópera Maria Tudor, que por  contrato devo entregar ao editor Ricordi no mês de setembro… senão  multa…”

Carlos”


(Carlos Gomes – Do Sonho à Conquista. Juvenal  Fernandes, p.135); (A Vida de Carlos Gomes. Itala Gomes Vaz de Carvalho,  pp.124, 125); (Carlos Gomes – Do Sonho à Conquista. Juvenal Fernandes,  p.135)


Posteriormente, veio a quase imposição do Imperador e ele viu-se obrigado a obedecer. Disse D. Pedro:

“Quero um hino nacional digno do Brasil, de você, de mim. Eu o quero logo. Não admito desculpas. Espero eu mesmo”.

Ficou muito aborrecido, mas a ordem imperial era clara; obedeceu-a.

O  Hino agradou imensamente a D. Pedro II, que agradeceu com afeto. IL  SALUTO DEL BRASILE, que já em fins de maio, segue para a legação de  Paris, amarrado em nove rolos e é executado sob aplausos entusiásticos  naquela cidade americana, a 4 de julho de 1876. Dias depois, recebia  notícias de que a Fosca fora cantada no Rio.

IL SALUTO DEL BRASILE,  grande hino para vozes e orquestra e oito harpas, obtém um grande  sucesso na Filadélfia naquele ano. O excelente maestro Roberto  Schnorrenberg considerava esta partitura harmonicamente bastante  avançada.

Os críticos de lá louvaram sua capacidade de sintetizar o  melhor da escola italiana e da escola alemã, fazendo surgir, aqui e ali,  sinais de wagnerianismo. Na verdade, a beleza da melodia, a harmonia  avançada para a época e a sólida técnica orquestral nos impressionam até  hoje e justificam os comentários da imprensa americana.

É o primeiro centenário da independência americana e em Filadélfia transcorrem as celebrações. E CARLOS GOMES está presente.

O  Hino é arrebatado e passional, como sempre e em 4 de julho a grande  orquestra do maestro Gilmore o executa na Praça da Independência diante  de um público extraordinário.

A Presse de Filadélfia escreve:


“Saudação do Brasil, hino pelo primeiro centenário da independência  americana, composto por A. Carlos Gomes, por ordem de S. M. Dom Pedro,  foi uma das mais deliciosas peças musicais executadas nesta ocasião.  Parece que o maestro Gomes tinha se apropriado das melhores qualidades  tanto da escola italiana, quanto da escola alemã, sem cair nos excessos  de uma e de outra.

O Hino tem todo o fascínio melódico da música italiana e ao mesmo tempo os envolvimentos, as belas harmonias da música alemã.

Aqui  e ali se percebem traços do estilo wagneriano, mas assim como se  encontram com frequência mudanças repentinas e harmonias complicadas,  não fica ofuscada a base melódica, que aliás é posta em relevo maior  pelas variações feitas sobre essa.

Há nesta música muitas frases, por  efeito das quais se pode estar certo de que o Hino se tornará em  qualquer parte uma das peças prediletas do público.

Executado como  foi, vem a ser julgado uma das mais belas composições que já se tenha  ouvido e despertou os mais entusiásticos aplausos.

Durante a  execução, D. Pedro estava num local destacado, próximo à cadeira do  presidente da festa e ali de pé pôs-se a seguir com os olhos todos os  movimentos da orquestra. Os aplausos rumorosos com que foi acolhido o  imperador se prolongavam tanto que S.M. se viu obrigado a retirar-se, a  fim de que não fosse perdida pelo público nenhuma parte das belezas  desta música estupenda.”


FRASE DO MAESTRO:

CARLOS GOMES dizia em cartas a amigos:

“(…) AMO A ITÁLIA COMO SEGUNDA  PÁTRIA, MAS EU SOU CAIPIRA E BRASILEIRO HEI DE MORRER, MEUS FILHOS SÃO  REGISTRADOS NO CONSULADO BRASILEIRO, MINHA FILHA CHAMA-SE ITALA EM  HOMENAGEM À ITÁLIA, MAS MEUS FILHOS ITALIANOS ? NÃO QUERO ! HÃO DE SER  BRASILEIROS, A PÁTRIA DELES É O BRASIL !

Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado um dia.





 



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